De passagem pelo Brasil para fechar um dos dias da Campus Party 2013, Tapscott conversou com a InformationWeek Brasil sobre a evolução da colaboração como processo natural.
Don Tapscott é o tipo de sujeito que dispensa apresentação. Aos 65 anos, o canadense é autor e coautor de 13 livros, todos eles em torno da condução, gestão e quebras de paradigmas de negócios por meio da tecnologia. Sua obra mais conhecida é o Best-seller “Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar seu negócio”, lançado em 2006, e que até hoje figura como referência para diferentes mercados, principalmente, de TI e educação.
De passagem pelo Brasil para fechar um dos dias da Campus Party 2013, ele bateu um papo rápido com a InformationWeek Brasil, pouco antes de subir ao palco para apresentar seu painel.
InformationWeek Brasil – Seu livro Wikinomics foi lançado em 2006 e hoje, sete anos depois, o tema colaboração ainda é um problema para as empresas. Como você vê a evolução do mercado neste sentido dentro desses anos?
Don Tapscott – Essa é uma grande mudança, e não somente na forma como as pessoas trabalham, mas na raiz da estrutura empresarial, em como as companhias pensam em capacitação e serviços. Quando você tem mudanças como essas, você observa crises entre os líderes, que ficaram deslocados, confusos, preocupados, pois já não são mais vistos como os legais. E isso é interessante, pois não importa o seu posto, que pode parecer grande para as pessoas, o verdadeiro poder está na colaboração, na disseminação do poder por entre as pessoas.
Mas há também as empresas que adotaram os conceitos de colaboração, muitos até pontuados no Wikinomicks, que obtêm melhor desempenho de suas operações, com mais sucesso.
IWB – Mas não soa estranho o fato de que o mercado sofra culturalmente com a colaboração, tendo em vista que se trata de estabelecer um relacionamento com as pessoas do seu ambiente de trabalho?
Tapscott – Não se trata apenas da mudança do pensamento, mas de algo enraizado nas empresas. Nós criamos todas essas conotações: Corporativo, Governo, Burocracia… E eles foram bons modelos. Há cem anos quando a burocracia foi instaurada, era necessário que assim fosse para que as organizações se estabelecessem. O que acontece é que, nas últimas duas décadas, a tecnologia da informação tem proposto uma mudança na forma de como tudo é feito. Trata-se de uma mudança cultural. Não é fácil, mas se faz necessária.
Para as gerações a partir do final da década de 80, tudo isso soa como natural. Mas as empresas ainda contam com muitos remanescentes do passado, e esse choque é um incentivo, mas também assusta.
IWB – Você realmente acredita que as redes sociais públicas, como Twitter, Facebook, LinkedIn, entre outras, podem mudar este panorama confuso proveniente do choque das gerações?
Tapscott – Isto está acontecendo, e está se espalhando por todo o mundo muito rapidamente. E, para quem quer, é muito simples ver isso. Como diz Bob Dylan, em Subterranean Homesick Blues: “You don’t need a weatherman to know which way the wind blows” (Você não precisa de um meteorologista para saber para qual lado o vento sopra, na tradução literal), e o vento está soprando forte neste novo sentido, e é besteira querer ficar contra ele.
IWB – E como você vê o papel do CIO no meio de toda essa ventania?
Tapscott – Ainda existe uma função para o Chief Information Officer, mas o título não mais cabe à posição, pois todos contam com a informação. Hoje é mais algo voltado a dados, análises e todo esse ambiente que se tornou complexo devido a essa disseminação de detentores de informação. Uma coisa que eles devem fazer é se transformarem em líderes de negócios. Outra medida é que eles devem escolher se preferem fazer a primeira opção ou procurar se há alguma outra vaga numa nova empresa.
IWB – Tendo em vista toda a sua bagagem no mercado de TI e seu foco nas novas gerações e nos processos de adaptação de tendências, quando é que veremos a colaboração começar a se tornar padrão?
Tapscott – Está acontecendo hoje. O mercado viu um salto gigantesco de oportunidades, saindo dos milhões para os bilhões, em adicionar capacidades colaborativas às suas soluções. Está acontecendo em empresas como a Protect and Gamble, que investe 60% mais em inovação que anteriormente. Está acontecendo em pequenas empresas, que contam com a oportunidade de arriscar mais que as grandes empresas que ainda não encontraram uma forma de sair da burocracia.
É difícil que isso aconteça de maneira simultânea em todo lugar, mas eu adoraria me encontrar com a presidente Dilma Rousseff para falar sobre como ela poderia acelerar o processo de colaboração e inovação no Brasil. Eu tenho trabalhado com governos em todo o mundo, e eu amo o Brasil, amo estar aqui, e tenho certeza que a próxima grande mudança global sairá daqui.